Novo estudo fornece base para políticas públicas e estratégias de restauração em um trecho do Rio Doce.
O desastre da barragem de Fundão, ocorrido em Mariana, Minas Gerais, gerou um impacto devastador sobre os ecossistemas da bacia do rio Doce, comprometendo a biodiversidade e a qualidade ambiental da região.
Diante desse cenário crítico, uma pesquisa recente publicada na revista Southern Forests da África do Sul apresentou uma contribuição significativa para a restauração ecológica da bacia, investigando a relação entre as condições do solo e a composição de espécies vegetais em florestas preservadas ao longo do rio.
Solo é determinante para a escolha das espécies na restauração
A pesquisa foi conduzida em três locais de florestas preservadas nos municípios de Itueta e Santa Rita do Itueto, em Minas Gerais, cerca de 340 km de Mariana. Os pesquisadores buscaram estabelecer parâmetros ecológicos que possam guiar a recuperação das matas ciliares deste trecho do Rio Doce. Um dos principais resultados do estudo foi a identificação de 157 espécies de plantas, distribuídas em 31 famílias, com a família das leguminosas sendo a mais representativa.
Além de documentar essa diversidade, o estudo revelou associações significativas entre as espécies vegetais e as diferentes condições do solo. A primeira autora da pesquisa, Débora Oliveira Sousa, enfatiza a importância dessas associações: "A relação entre os fatores do solo e a comunidade vegetal é determinante na escolha das espécies para programas de restauração ecológica".
Essa constatação reforça a ideia de que a seleção de espécies adaptadas a condições edáficas (do solo) específicas aumenta as chances de sucesso nas iniciativas de restauração, otimizando a recuperação das áreas degradadas.
A pesquisa também destacou a heterogeneidade dos solos na região. Enquanto alguns apresentaram alta fertilidade, outros mostraram características menos favoráveis, como maior acidez e menor disponibilidade de nutrientes.
Observou-se que espécies como Alseis floribunda (goiabinha) e Lonchocarpus sericeus (ingá-bravo) prosperaram em solos mais férteis, enquanto Anadenanthera colubrina (angico) foi identificada em solos mais ácidos e pobres em nutrientes.
O avanço para a ciência e o meio ambiente
A pesquisa oferece uma base científica sólida que pode guiar a seleção de espécies e o planejamento de intervenções na bacia do rio Doce. Além disso, as descobertas promovem soluções baseadas em ciência, que ajudam a enfrentar os desafios ambientais da região e em outras áreas degradadas do Brasil de maneira eficaz, preservando a biodiversidade da região.
O trabalho de restauração promove a biodiversidade e a recuperação dos serviços ecossistêmicos vitais, essenciais para a saúde ambiental e o bem-estar das comunidades locais. Compreender as interações entre o solo e a vegetação é um passo importante para garantir que as iniciativas de restauração sejam eficazes e sustentáveis, contribuindo para a resiliência dos ecossistemas na bacia do rio Doce e além. A pesquisa é parte do projeto Biochronos, coordenado pelo professor Geraldo Fernandes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e contou com o apoio da Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais).
Acesse o artigo na íntegra aqui.
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