top of page
Buscar
biodiv2023

O fogo avassalador e as florestas do topo do Espinhaço

Cientistas investigam a resiliência dos capões de mata nos campos rupestres de Minas Gerais

Capões de Mata na Serra do Espinhaço. Foto: Ricardo Solar

Um dos grandes desafios da humanidade é o aumento de focos de incêndios que têm se multiplicado e se tornado mais severos devido à intensificação das atividades humanas e as mudanças climáticas. Atualmente, os incêndios são responsáveis por 33% das perdas de cobertura vegetal em todo o mundo e muitos cientistas alertam que entramos na “Era do Piroceno (piro em grego = fogo)”.  Em outras palavras, uma era dominada pelos mega incêndios.


Nesse cenário alarmante, cientistas de três centros de pesquisa de prestígio internacional: Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade da Namíbia (Namíbia) e Universidade Nacional de Córdoba (Argentina), se reuniram para compreender o impacto dos incêndios nos últimos onze anos sobre as  ilhas de florestas naturais – chamadas de capões de mata – que ocorrem ao longo do topo das montanhas da Cadeia do Espinhaço, a segunda maior cordilheira da América do Sul. 


Esses capões de mata são comuns nas áreas mais altas deste território, dominado por montanhas. Eles ocorrem geralmente a partir dos 1200 metros de altitude, e apresentam uma grande importância na manutenção das nascentes de importantes rios, como o São Francisco, Jequitinhonha, Rio Doce e o Rio das Velhas. O estudo foi financiado por uma iniciativa do Bio-Bridge - Convention on Biological Diversity (CBD), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em parceria com o Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) do CNPq.

Pesquisadores caminham até um capão de mata, uma "ilha de floresta" na Serra do Espinhaço. Foto: Fred Neves

Regime de incêndios reduz resiliência dos capões


Os primeiros resultados da pesquisa demonstraram que capões que pegaram fogo apenas uma a duas vezes nos últimos 11 anos não tiveram grandes impactos na riqueza e abundância de espécies de arbustos e árvores. Neste caso, nem mesmo foi impactada a cobertura da copa das árvores. Assim, as matas mantiveram a umidade interna, já que as copas continuam unidas, promovendo sombreamento e abrigo para os animais e outras plantas menores.  


Os cientistas mostraram, por outro lado, que duas queimas em uma década já resultam em mudanças significativas na qualidade dos solos, que ficam mais expostos e secos e, ainda, apresentam menores concentrações de cobre, manganês, cálcio e acidez, mas com maiores concentrações de fósforo e enxofre. 

Ilhas de vegetação arbórea se destacam na paisagem de vegtação rasteira. Foto: H.O.Hilário

O impacto observado na vegetação rasteira levanta grandes preocupações sobre o futuro da vegetação arbórea deste sistema de capões, uma vez que as pequenas mudas das árvores podem estar sendo comprometidas, afetando o potencial de regeneração das florestas a longo prazo. Em resumo, a vulnerabilidade dessas áreas florestais aumenta com mudanças no regime de incêndios e pode ter enorme impacto na biodiversidade.


O coordenador dos dois projetos, Prof. Geraldo Fernandes da UFMG, alerta que a frequência e intensidade dos incêndios podem comprometer a integridade ecológica e os serviços essenciais que esses ecossistemas fornecem, como a produção de água e até o ecoturismo. 




O cientista Ezequiel Fabiano (PhD), da Namíbia, conduz neste momento uma avaliação similar dos impactos dos incêndios florestais nos ecossistemas do seu país no intuito de comparar e buscar soluções comuns aos dois países tropicais.


Assim, a continuidade de estudos de longa duração é indispensável para monitorar e entender plenamente as dinâmicas ecológicas desses ambientes e antecipar as consequências para as populações humanas em um futuro próximo.



Leia o artigo na íntegra: Evaluating the role of fire over a decade in a tropical mountainous forest-grassland mosaic. Journal Mountain Science. Autores: Kuchenbecker J, Oki Y, Camarota F, Neves FS, Macedo DR, Ferreira BS, Aguilar R,  Ashworth L, Fabiano E, Araujo BD, Ponce de Leon AP, Silva BR, Bragioni T, Goulart FF, Figueira JEC, Fernandes GW. 2024.


6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
centro de conhecimento em biodiversidade
  • Youtube
  • Instagram
  • Facebook
  • Linkedin
bottom of page