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Mudança climática e o futuro das plantas carnívoras

Atualizado: há 5 dias

Perda de habitat pode afetar mais de 70% das espécies de Drosera


Drosera quartzicola, espécie endêmica da Serra do Cipó, em Minas Gerais, é considerada a mais rara Drosera do Brasil. Foto: Rafael Rios
Drosera quartzicola, espécie endêmica da Serra do Cipó, em Minas Gerais, é considerada a mais rara Drosera do Brasil. Foto: Rafael Rios

Na ficção, as plantas carnívoras costumam ser retratadas como monstros capazes de engolir pessoas inteiras. Mas a realidade sobre essas plantas é bem diferente. Entre uma diversidade de plantas carnívoras, o grupo das Drosera destaca-se por suas propriedades únicas e pelos benefícios à saúde humana, especialmente no Brasil, onde várias espécies ocorrem naturalmente. 


As droseras são plantas carnívoras que se destacam por sua habilidade de atrair, capturar e digerir pequenos insetos, uma adaptação que lhes permite sobreviver em solos de baixo valor nutricional, especialmente de nitrogênio. A capacidade de sobreviver neste tipo de ecossistema as torna essenciais para o equilíbrio ecológico, principalmente em ambientes como pântanos, turfeiras e algumas áreas de várzea, que são comuns na América do Sul. 

Drosera hirtella. Foto: Julio Santiago
Drosera hirtella. Foto: Julio Santiago

As orvalhinhas, como são também conhecidas, apresentam uma diversidade de usos que vão desde aplicações medicinais até o equilíbrio ecológico de diversos ambientes. Contudo, essas plantas, que habitam ambientes de solo úmido e baixo teor nutricional, estão diante de um desafio crescente: o impacto das mudanças climáticas.





Mudança no clima atinge ecossistemas sensíveis

 

As mudanças climáticas são uma preocupação crescente entre os cientistas por seus impactos profundos e abrangentes na biodiversidade global. O aumento das temperaturas do planeta, alterações nos padrões de precipitação e aumento no número e frequência de eventos climáticos extremos estão afetando todos os ecossistemas do mundo, resultando em mudanças significativas na distribuição e abundância de espécies. 


Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais em colaboração com a Universidade Nacional Autônoma do México investigou 39 espécies de Drosera nativas da América do Sul para avaliar a capacidade de adaptação às mudanças nas condições climáticas prováveis do futuro próximo. Com uma distribuição ampla ao redor do mundo, o gênero Drosera é muito presente na América do Sul, região rica em diversidade de plantas carnívoras. 


A pesquisa, conduzida por especialistas em biogeografia e ecologia, mostrou que os ecossistemas onde vivem as Drosera estão sendo bastante modificados, o que ameaça a sobrevivência dessas plantas e a estabilidade dos ambientes que elas ajudam a sustentar.


Drosera montana. Foto: Geraldo W. Fernandes/ Solar System Special Photographs
Drosera montana. Foto: Geraldo W. Fernandes/ Solar System Special Photographs

Mais de 70% das espécies vulneráveis 


O estudo utilizou modelos de distribuição de espécies para analisar variáveis bioclimáticas, como temperatura, precipitação e concentração de CO2, com o objetivo de entender como as condições climáticas podem afetar a capacidade das droseras de prosperar em habitats específicos. 


A maior parte das espécies apresenta vulnerabilidade a uma redução significativa na adequação de seu habitat até 2050 e 2070. Cerca de 72% das espécies avaliadas deverão enfrentar um declínio considerável na qualidade e extensão dos seus habitats naturais, o que compromete bastante as chances de sobreviver nos ambientes que se projetam no futuro da América do Sul.


Impactos na saúde pública e na saúde dos solos


A redução da adequação dos habitats das espécies de Drosera pode ter consequências devastadoras, não apenas para essas plantas, mas também para os animais e seres humanos que dependem desses ecossistemas. A perda dessas plantas carnívoras pode comprometer alguns serviços ecológicos essenciais, como o controle de populações de insetos e a manutenção da qualidade do solo.


Diante desse cenário, é necessário adotar políticas de preservação e ações concretas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas nas icônicas espécies de plantas carnívoras. Sob atenção especial, encontram-se os ambientes habitados por elas nas regiões montanhosas, como na Serra do Espinhaço, Serra da Canastra, Chapada dos Veadeiros, dentre outras. 


A proteção das espécies do gênero Drosera e de seus habitats deve ser uma prioridade, considerando sua importância ecológica e os benefícios que proporcionam à saúde pública. A conservação dessas plantas carnívoras na América do Sul é uma questão de preservação ambiental global, exigindo uma resposta imediata para conter os efeitos da crise climática e proteger a rica biodiversidade que o planeta ainda abriga.



 
 
 

1 Comment


Elizabeth Neves
Elizabeth Neves
há 5 dias

Parabéns pelo belo texto sobre a Drosera! Sou bióloga marinha, mas desenvolvo trabalhos em ambientes límnicos, na Chapada Diamantina. De fato, coordeno o Projeto Na Trilha dos Carbonatos. Estudo com os alunos os recifes estromatolíticos do ancestral Mar Bambuí. E a malacofauna e alguns outros invertebrados aquáticos do setor (grupos taxonômicos modernos). As Drosera não se distribuem nos paleoambientes de rochas carbonáticas que costumamos visitar. Não lembro de ter registrado Drosera em águas duras. Mas, podem ser observadas junto às formações sedimentares e conglomerados às margens de alguns rios de águas ácidas, avermelhadas, onde se fixam, geralmente, entre rochas. Sim, antes, eram mais abundantes. A foto em anexo tirei em 2017. De fato a região vive uma grande expansão imobiliá…



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