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Incêndios florestais ameaçam abastecimento de água em Belo Horizonte, revela estudo

Raíra Saloméa

Incêndio no Parque Estadual da Serra do Rola Moça.  Em 50 anos, o Parque perdeu 40% de sua cobertura florestal devido aos incêndios. Foto: Evandro Rodrigues
Incêndio no Parque Estadual da Serra do Rola Moça. Em 50 anos, o Parque perdeu 40% de sua cobertura florestal devido aos incêndios. Foto: Evandro Rodrigues

Os incêndios florestais recorrentes no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM) estão comprometendo a segurança hídrica da região metropolitana de Belo Horizonte. É o que mostra um estudo de cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de outras universidades parceiras, publicado no periódico Total Environment Advances. A pesquisa lança um alerta sobre a ao aceleração da perda de florestas de galeria, ecossistemas que abrigam nascentes que abastecem milhões de pessoas.


40% de cobertura florestal perdida e impactos no ciclo da água


Nos últimos 50 anos o Parque Estadual da Serra do Rola Moça perdeu 40% de sua cobertura florestal, principalmente devido a incêndios. A devastação gerou um aumento de 25% no escoamento superficial da água e uma redução de 18% no volume infiltrado no solo, fatores que intensificam tanto o risco de colapso hídrico quanto a ocorrência de inundações em períodos de chuva extrema.


“Sem a cobertura vegetal das florestas de galeria, a água das chuvas escoa rapidamente pela superfície, sem tempo para infiltrar no solo e abastecer os lençóis freáticos”, explica Evandro Luís Rodrigues, um dos autores do estudo.

Em primeiro plano, comunidade da espécie Vellozia, também conhecida canela-de-ema, dizimada pelo fogo. Ao fundo, capões de mata queimados e um trecho não atingido pelas chamas. Foto: José Eugênio Côrtes
Em primeiro plano, comunidade da espécie Vellozia, também conhecida canela-de-ema, dizimada pelo fogo. Ao fundo, capões de mata queimados e um trecho não atingido pelas chamas. Foto: José Eugênio Côrtes

Simulação no Parque Estadual da Serra do Rola Moça


Utilizando imagens de satélite e modelagem hidrológica avançada, os pesquisadores simularam o balanço hídrico em diferentes cenários de cobertura vegetal e estimaram os impactos na oferta de água. O modelo foi ajustado às condições ambientais e hidrológicas da área de recarga do Parque Estadual do Rola Moça e as mudanças na vegetação foram confirmadas com visitas de campo e imagens obtidas com drones.


“Usando diferentes métodos estatísticos mostramos que a redução da cobertura florestal reduziu a infiltração de água no solo e que as florestas são mais eficientes que os campos e savanas no processo de infiltração. Isso é determinante em uma área de extrema importância para o abastecimento de água de milhões de pessoas.”, explica Geraldo Fernandes, um dos autores.

Risco crescente e soluções urgentes


Além da perda hídrica, a degradação das florestas no Parque está abrindo espaço para a expansão de vegetação savânica nas bordas das matas — ecossistemas mais inflamáveis que contribuem para a propagação do fogo. Para os pesquisadores, a adesão ao Manejo Integrado do Fogo (MIF) é fundamental para proteger essas áreas sensíveis.


“Precisamos implementar estratégias urgentes de mitigação de incêndios e investir na restauração das florestas de galeria para garantir o equilíbrio do ciclo hidrológico”, afirma a pesquisadora Eugênia Kelly Luciano Batista.

Para os pesquisadores, a adesão ao Manejo Integrado do Fogo (MIF) é fundamental para proteger essas áreas sensíveis. Foto: José Eugênio Côrtes.
Para os pesquisadores, a adesão ao Manejo Integrado do Fogo (MIF) é fundamental para proteger essas áreas sensíveis. Foto: José Eugênio Côrtes.

Ciência para subsidiar políticas públicas


Os dados apresentados pelos cientistas fornecem informações concretas para gestores públicos, como o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), além de alertar a sociedade civil sobre a urgência de medidas para evitar o colapso hídrico.


Os próximos passos incluem o desenvolvimento de políticas públicas robustas voltadas para a conservação dos mananciais da Grande BH, além do engajamento das comunidades locais na proteção do Parque da Serra do Rola Moça. Os cientistas pretendem realizar estudos detalhados para quantificar o impacto da perda de serviços ecossistêmicos e a valoração econômica dos recursos naturais da região.


A pesquisa contou com a colaboração de instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o United States Geological Survey (USGS) e o MapBiomas e com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).


Acesse o artigo completo: Deep scars of fire: a conundrum of shrinking forests, biological invasions, and dryness leading to lower water provision and security (https://doi.org/10.1016/j.teadva.2025.200122 )

 
 
 
centro de conhecimento em biodiversidade
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