Pesquisa revela "assinatura evolutiva" entre os principais tipos de florestas amazônicas
A Amazônia é o lar de uma biodiversidade extraordinária, abrigando mais espécies de árvores do que qualquer outra região do planeta. Este ecossistema não só é rico em número de espécies, mas também em linhagens evolutivas, algumas datando de milhões de anos. Mas como essa diversidade se distribui pela vasta extensão da floresta amazônica? Um estudo realizado por uma equipe de pesquisadores procurou desvendar essa questão, explorando como a geografia e a ecologia da região influenciam a composição das comunidades arbóreas.
O pesquisador Domingos Rodrigues, que coordena o projeto Panoramas da Biodiversidade no Centro de Conhecimento em Biodiversidade, é um dos autores da pesquisa, publicada no Journal of Biogeography, disponível na íntegra neste link: https://doi.org/10.1111/jbi.14816
Diversidade que se adapta ao ambiente
Pesquisadores analisaram mais de 5 mil espécies de árvores em quase 2 mil parcelas distribuídas pela Amazônia. Utilizando uma abordagem inovadora que combina dados filogenéticos — ou seja, a relação evolutiva entre as espécies — com características ambientais, eles descobriram padrões surpreendentes.
O estudo revelou que, embora as árvores na Amazônia tenham se dispersado amplamente ao longo do tempo, a composição das comunidades arbóreas varia significativamente de acordo com a região geográfica e o tipo de floresta. Em particular, as florestas de igapó e de areia branca apresentam uma assinatura evolutiva única, independentemente de onde estejam localizadas na Amazônia.
A influência do solo, clima e topografia
Os pesquisadores também descobriram que a química do solo, o clima e a topografia são responsáveis por 24% da variação na composição filogenética das árvores. No entanto, a maior parte dessa variação (79%) é influenciada pela localização geográfica das espécies. Isso sugere que, além dos fatores ambientais, a história evolutiva das espécies e sua dispersão ao longo do tempo desempenham um papel crucial na formação das comunidades.
Um ponto interessante do estudo foi a identificação de que certas linhagens de árvores, algumas com mais de 66 milhões de anos, estão fortemente associadas a regiões específicas da Amazônia. Isso indica que a especialização em ambientes específicos tem sido uma força motriz na evolução das florestas amazônicas.
Implicações para a conservação
Este estudo lança luz sobre a complexidade da biodiversidade amazônica e as forças que moldaram suas florestas ao longo de milhões de anos. Compreender como a geografia e a ecologia influenciam a composição das comunidades arbóreas é fundamental para a conservação da Amazônia, especialmente em um contexto de mudanças climáticas e desmatamento.
Ao destacar a importância da especialização ecológica e das associações geográficas, os pesquisadores alertam para a necessidade de políticas de conservação que levem em conta a diversidade filogenética e as adaptações regionais. Proteger essa riqueza biológica requer uma abordagem que respeite as singularidades de cada região da Amazônia, garantindo a sobrevivência das espécies e a manutenção dos serviços ecossistêmicos que a floresta oferece.
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