Fungo Aspergillus flavus
Dentro das plantas existe uma grande variedade de fungos. Muitos deles são inofensivos e até benéficos, mas alguns podem causar doenças, dependendo das circunstâncias. O fungo Aspergillus flavus é um exemplo disso. Ele é encontrado em todo o mundo e tem uma ampla diversidade genética, desde variantes (ou cepas) não tóxicas até as altamente tóxicas.
Algumas cepas do Aspergillus flavus podem ajudar as plantas no seu crescimento e desenvolvimento quando usadas corretamente. Mas outras cepas produzem compostos químicos, conhecidos como aflatoxinas, especialmente perigosos em cultivos como milho, soja, castanha e amendoim, deteriorando sementes estocadas e podendo não só afetar negativamente a saúde das plantas, mas também comprometer a segurança alimentar de animais e humanos.
Plantio de milho devastado pelas aflatoxinas do fungo Aspergillus flavus, em super zoom à direita.
Cientistas de seis universidades, entre elas a UFMG e a Universidade de Oxford, na Inglaterra, investigaram os efeitos de uma variedade desse fungo no desempenho do girassol. O estudo revelou que, além dos prejuízos já conhecidos, o fungo pode influenciar negativamente na capacidade de resposta da planta às mudanças climáticas futuras.
O experimento
Em câmaras de topo aberto, ajustadas para replicar as futuras condições ambientais com altas concentrações de gás carbônico e um aumento de até 3°C na temperatura, os pesquisadores inseriram mudas de girassol contendo o fungo A. flavus. As sementes de girassol foram regadas com uma solução contendo o fungo e transferidas para as estufas. Com sete dias, a solução também foi regada no solo e com mais 20 dias, borrifada nas folhas, como mostra o esquema a seguir:
O girassol é um importante produto da indústria do país, matéria prima para a produção de óleos alimentícios e biodiesel. O cultivo tem aumentado no Cerrado, bioma já castigado pela desertificação e mapeado como um dos locais que mais serão afetados pelo aumento da temperatura e pela crise climática.
Mas além da importância econômica, outro fator torna os girassóis um coringa para analisar a sobrevivência do planeta. A forma como funciona o metabolismo do girassol é similar a 84% de todas as espécies de plantas do planeta (uma categoria chamada de C3). Isso significa que os resultados com girassol indicam o impacto das emissões de carbono para a grande maioria das plantas que temos ao nosso redor, como soja ou feijão.
Os resultados
Os resultados mostraram que, nas condições ambientais que temos atualmente, se aplicado da maneira correta, o fungo pode ajudar no desenvolvimento do girassol, aumentando a quantidade de nitrogênio e clorofila nas folhas, essencial para o crescimento das plantas, e expandido a produção de biomassa vegetal.
No entanto, quando o nível de CO2 no ar e a temperatura são elevados, os impactos do fungo tornam-se predominantemente negativos para as plantas. Se a temperatura aumentar 3ºC e a concentração de gás carbônico dobrar, como estimam os especialistas, a presença do fungo desencadeia uma redução da eficiência fotossintética – ou seja, a planta cresce menos, o que possivelmente, pode afetar sua produção – e o aumento do estresse fisiológico do girassol.
“Para o girassol ainda não podemos afirmar que essas alterações o deixariam mais suscetíveis a pragas. No entanto, outros estudos têm mostrado que algumas cepas deste mesmo fungo, combinado ao estresse climático, causam grandes perdas na produção do milho.”, explica Renata Maia, autora da pesquisa.
Em um contexto de aquecimento global e avanço das condições de desertificação no Brasil, a transição de um fungo para um estado patogênico representa um alerta significativo para o setor agrícola. O coordenador da pesquisa, Prof. Geraldo Fernandes, da UFMG, destaca a urgência de investimentos que possibilitem uma compreensão mais aprofundada do fungo. Ele enfatiza a necessidade de cautela em seu uso agrícola, especialmente diante das mudanças climáticas, que podem intensificar o risco de aumento na produção de micotoxinas e infecções em sementes.
Os cientistas mostraram que as mudanças climáticas globais podem transformar fungos úteis em nocivos, um dado fundamental para a gestão futura de culturas e a segurança alimentar. E evidenciaram mais uma vez o potencial de microrganismos internos para que as plantas se ajustem a ambientes em transformação.