Grandes propriedades rurais podem evitar até 13% dessa perda se cumprirem Lei de Proteção da Vegetação Nativa
Pesquisa publicada na Scientific Reports, da Nature Research, alerta para a perda significativa de vegetação nativa no Cerrado brasileiro até 2070, destacando a importância de considerar o tamanho das propriedades privadas em estratégias de conservação da biodiversidade.
Os resultados sugerem que, mesmo com a plena implementação da Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei n. 12.651/12), até 2070, o Cerrado poderá perder até 30,6 milhões de hectares de vegetação nativa. As grandes propriedades, em particular, têm um papel determinante nessa dinâmica de perda e conservação.
A pesquisa investiga os fatores que influenciam a perda de vegetação nativa na região, projeta cenários futuros de desmatamento e avalia o papel crucial das grandes propriedades para a preservação deste bioma. Também assinam como autores os coordenadores do Centro de Conhecimento em Biodiversidade, Fábio Oliveira e Geraldo W. Fernandes.
Grandes propriedades rurais podem evitar a perda de milhões de hectares
Os principais “impulsionadores” identificados para a perda de vegetação nativa incluem a proximidade de rios, estradas e cidades, além do potencial agrícola e de atividades agrícolas específicas. Em contrapartida, as áreas protegidas, como Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente (APPs), são fundamentais na prevenção da perda de vegetação.
O estudo destaca que a proteção de 30% das propriedades com mais de 2.500 hectares poderia evitar a perda de mais de 4,1 milhões de hectares de vegetação nativa, o que corresponde a 13% da perda projetada até 2070.
A pesquisadora Carina Barbosa Colman, primeira autora do artigo, salienta:
"Nossa pesquisa fornece uma base sólida para orientar esforços de conservação, destacando o papel crítico das grandes propriedades na preservação da biodiversidade do Cerrado. As políticas públicas precisam se concentrar principalmente em grandes fazendas para que possamos mitigar os impactos negativos das práticas atuais de uso do solo."
Abordagem inovadora e metodologia para projeções
O estudo, conduzido no Cerrado, abrange uma área que corresponde a cerca de 24% do território brasileiro, incluindo o Distrito Federal e partes de 11 estados. O Cerrado é reconhecido como um dos 36 hotspots globais de biodiversidade e possui uma importância estratégica para o Brasil, com oito das doze grandes bacias hidrográficas brasileiras tendo suas nascentes nesse bioma.
A metodologia incluiu uma abordagem em cinco etapas, que envolveu a identificação dos fatores que contribuem para o desmatamento; a modelagem computacional para simular a evolução da paisagem ao longo do tempo; a projeção da perda de vegetação nativa até 2050 e 2070, assumindo a aplicação total da Lei de Proteção da Vegetação Nativa e a análise do impacto do tamanho das propriedades. Com base nesses resultados, foram feitas recomendações para políticas públicas que equilibrem a produção agrícola com a conservação ambiental.
A pesquisa é a primeira a avaliar simultaneamente as variáveis que influenciam a perda de vegetação em todo o Cerrado, considerando como essas variáveis mudam ao longo do tempo, e avaliando quais áreas são mais afetadas e quanto será perdido em uma escala de propriedade. Isso oferece novas perspectivas para a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável na região.
Perspectivas futuras e implicações sociais da pesquisa
Os próximos passos incluem a incorporação de cenários de mudanças climáticas, o envolvimento de produtores rurais para entender suas percepções sobre novas legislações ambientais, a avaliação econômica das recomendações feitas e a implementação de um monitoramento contínuo para verificar a eficácia das práticas sugeridas.
A pesquisa destaca o potencial de mitigação das mudanças climáticas ao preservar a vegetação nativa, contribuindo para a sequestro de carbono e a manutenção de serviços ecossistêmicos essenciais. Além das considerações ambientais, a implementação de medidas de conservação com base nessas descobertas pode resultar em benefícios socioeconômicos para as comunidades locais, apoiando meios de subsistência, promovendo oportunidades de ecoturismo e fortalecendo a resiliência das economias rurais dependentes dos recursos naturais do Cerrado.
Acesse o artigo na íntegra clicando: Modeling the Brazilian Cerrado land use change highlights the need to account for private property sizes for biodiversity conservation,
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