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Giada Ferraglioni | Carbon Pulse

Cerrado brasileiro perderá mais de 26 milhões de hectares até 2050, a menos que lei de proteção atinja grandes proprietários de terra, dizem pesquisadores

Atualizado: 16 de ago. de 2024


Publicado originalmente no portal inglês Carbon Pulse em 27 de fevereiro de 2024 por Giada Ferraglioni.


desmatamento cerrado
Destruição do Cerrado na região do Oeste da Bahia, nova fronteira de desmatamento.(Foto: Myke Sena/ WWF Brasil)

Proteger 30% das áreas de grandes proprietários de terras no Cerrado brasileiro poderia evitar 13% da perda de biodiversidade esperada até 2070. É o que concluiu um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e publicado na revista Scientific Reports este mês.


A análise revelou que o Cerrado poderá perder 26,5 milhões de hectares de vegetação nativa até 2050 e 30,6 milhões de hectares até 2070 devido a leis ineficientes de proteção ambiental em terras privadas.


“Nossos resultados mostram evidências de que apenas a aplicação da Lei de Proteção à Vegetação Nativa Brasileira, ou Novo Código Florestal, não é suficiente para a conservação do Cerrado, pois grandes áreas, especialmente dentro de grandes propriedades, podem ser desmatadas sob a proteção da lei”, disseram os pesquisadores.


O Novo Código Florestal foi aprovado em 2012 para atualizar a lei de 1965. Ele regulamenta a exploração, conservação e recuperação da vegetação nativa do país. No entanto, foi acusado de perdoar o desmatamento ilegal antes de 2008 e de expandir a quantidade de terras privadas que podem ser desmatadas.


“[Na lei] há retrocessos significativos que devem ser considerados, como a legalização de antigos desmatamentos ilegais em Áreas de Proteção Permanente e a possibilidade de compensar déficits de Reservas Legais em outras áreas cobertas por vegetação nativa”, disse a análise.


O estudo estima que 40% da vegetação nativa do Cerrado pode ser legalmente convertida para agricultura e pecuária no âmbito do Novo Código. “Essa conversão massiva do uso da terra pode resultar na extinção de cerca de 1.140 espécies endêmicas até 2050, e talvez em vários pontos de inflexão, algo não avaliado até agora para este bioma extraordinário e fundamental para a segurança alimentar mundial e a regulação climática”, afirma o estudo.


“No sentido de conciliar conservação e produção agrícola, recomendamos que as políticas públicas foquem prioritariamente nas grandes propriedades, como proteger 30% da área de propriedades maiores que 2.500 hectares, o que evitaria uma perda de mais de 4,1 milhões de hectares de vegetação nativa, correspondendo a 13% da perda prevista até 2070.”


O estudo também sugere a utilização de mecanismos econômicos e orientados para o mercado, como o de créditos de carbono, e estender para além da Amazônia o alcance da Moratória da Soja, acordo que visa evitar a aquisição de soja proveniente de áreas desmatadas após 2008.


O Cerrado, também conhecido como Savana Brasileira, cobre uma área de 2 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro – cerca de 24% da área total – e foi classificado como um dos 36 hotspots globais de biodiversidade. Apesar da importância, o estudo destacou que cerca de 90% do Cerrado é propriedade privada.


As áreas formalmente protegidas são de aproximadamente 8,3%, em comparação com 28% na Amazônia. “O Cerrado é o bioma brasileiro com maior déficit de Reserva Legal (percentual mínimo de vegetação nativa exigido nas propriedades privadas) e possui cerca de 4,2 milhões de hectares de vegetação nativa que precisa ser recuperada”, mostrou o estudo.


A perda de biodiversidade deverá ocorrer principalmente em grandes propriedades, com perdas mais significativas esperadas em Minas Gerais (22%), Tocantins (18%), Goiás (14,6%), Mato Grosso (10,6%) e Maranhão (10,4%) nos próximos 46 anos.


“Nos últimos 50 anos, o Brasil deixou de ser um importador de alimentos para emergir como um dos principais players globais na produção de alimentos e energia renovável. Agora o país enfrenta um grande desafio para continuar expandindo as áreas agrícolas do Cerrado para a produção de alimentos e ao mesmo tempo conservar as áreas de vegetação nativa.”, afirmou Paulo Tarso S. Oliveira, um dos autores do estudo.


A expansão das terras agrícolas brasileiras ocorreu principalmente no Cerrado, onde o desmatamento atingiu níveis recordes em 2023, um aumento de 43% em relação a 2022.

De acordo com uma investigação realizada pela Global Witness, a produção de carne bovina alimentou o desmatamento ilegal de terras, com uma área maior que Chicago desmatada entre 2008 e 2019 por fazendas que abastecem os três maiores frigoríficos do Brasil.

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